Total de visualizações de página

domingo, 15 de julho de 2012

CONVERSA ENTRE DUAS CRIANÇAS DO SÉCULO XXI no berço!!!






 - E aí, véio?
 - Beleza, cara?

 - Ah, mais ou menos. Ando meio chateado com algumas coisas.
 - Quer conversar sobre isso?

 - É a minha mãe. Sei lá, ela anda falando umas coisas 

estranhas, me botando um terror, sabe?

 
- Como assim?
 - Por exemplo: há alguns dias, antes de dormir, ela veio com 

um papo doido aí. Mandou eu dormir logo senão uma tal de Cuca 
ia vir me pegar. Mas eu nem sei quem é essa Cuca, pô. O que eu
 fiz pra essa mina querer me pegar?  Você me conhece desde 
que eu nasci, já me viu mexer com alguém?
 - Nunca.


 - Pois é. Mas o pior veio depois. O papo doido continuou. Minha

 mãe disse que quando a tal da Cuca viesse, eu ia estar sozinho, 
porque meu pai tinha ido pra roça e minha mãe passear. Mas tipo, 
o que meu pai foi fazer na roça? E mais: como minha mãe foi
 passear se eu tava vendo ela ali na minha frente? Será que eu 
sou adotado, cara? - Como assim, véio?

 - Pô, ela deixou bem claro que a minha mãe tinha ido passear.

 Então ela não é minha mãe. Se meu pai foi na casa da vizinha, vai
 ver eles dois tão de caso. Ele passou lá, pegou ela e os dois foram 
passear. É isso, cara. Eu sou filho da vizinha. Só pode! - Calma, maninho. Você tá nervoso e não pode tirar conclusões
 precipitadas.
 - Sei lá. Por um lado pode até ser melhor assim, viu? Fiquei 

sabendo de umas coisas estranhas sobre a minha mãe. - Tipo o quê?
 - Ela me contou um dia desses que pegou um pau e atirou em um 

gato. Assim, do nada. Maldade, meu! Vê se isso é coisa que se 
faça com o bichano!

 
- Caramba! Mas por que ela fez isso?
 - Pra matar o gato. Pura maldade mesmo. Mas parece que o gato

 não morreu.

 
- Ainda bem. Pô, sua mãe é perturbada, cara. - E sabe a Francisca ali da esquina? - A Dona Chica? Sei sim. - Parece que ela tava junto na hora e não fez nada. Só ficou lá,
 paradona, admirada vendo o gato berrar de dor. - Putz grila. Esses adultos às vezes fazem cada coisa que não dá
pra entender. - Pois é. Vai ver é até melhor ela não ser minha mãe mesmo... Ela me
 contou isso de boa, cantando, sabe? Como se estivesse feliz por 
ter feito essa selvageria. Um absurdo. E eu percebo também que 
ela não gosta muito de mim. Esses dias ela ficou tentando me assustar, 
fazendo um monte de careta. Eu não achei legal, né. Aí ela começou a 
falar que ia chamar um boi com cara preta pra me levar embora.
 - Nossa, véio. Com certeza ela não é sua mãe. Nunca que uma mãe ia

 fazer isso com o filho.

 - Mas é ruim saber que o casamento deles não está dando certo... 

Um dia ela me contou que lá no bosque do final da rua mora um cara,
 que eu imagino que deva ser muito bonitão, porque ela chama ele de
 'Anjo'. E ela disse que o tal do Anjo roubou o coração dela. Ela até
 falou um dia que se fosse a dona da rua, mandava colocar ladrilho em 
tudo, só pra ele passar desfilando e tal. - Nossa, que casamento bagunçado esse. Era melhor separar logo.
 - É. só sei que tô cansado desses papos doidos dela, sabe? Às vezes 

ela fala algumas coisas sem sentido nenhum. Ontem mesmo, ela disse que 
a vizinha cria perereca na gaiola... já viu...essa rua só tem doido...

 - Ixi, cara. Mas a vizinha não é sua mãe?
 - é mesmo! Tô ferrado de qualquer jeito.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Deixe seu comentário ...